Resumo do dia: Acordos estacionados (por Paula Zogbi) Mercados mundiais operam em queda nesta sexta-feira. Futuros de bolsas americanas caem 0,5%, enquanto o Stoxx 600 vê baixa de 0,8%. Dois acordos "estacionados" são monitorados. Na Europa, as conversas pós-Brexit parecem não ver avanços a poucos dias do prazo final: assim que virar o ano, as relações comerciais entre Reino Unido e a União Europeia passam a ser regidas pela OMC. Nos EUA, também não há sinais de avanços quanto ao segundo pacote de estímulos à economia contra os impactos da covid-19. Espera-se que hoje os senadores cheguem a acordo para um projeto de lei de gastos com validade de uma semana. Falando em estímulos, na quinta, Hungria e Polônia abriram mão de vetos que vinham impedindo a implementação de uma injeção de 750 bilhões de euros na União Europeia. O pacote foi definido junto ao Orçamento relativo ao período entre 2021 e 2027, no valor de 1,3 trilhão de euros. Também do lado positivo, conselheiros da FDA (regulador sanitário dos EUA) recomendaram ontem por 17 votos a 4 a aprovação da vacina desenvolvida por Pfizer e BioNTech para uso emergencial no país. Este é o último passo antes da aprovação final. No Brasil, altas nos preços do petróleo e e a autorização de uso emergencial de vacinas contra a Covid-19 pela Anvisa contribuíram para levar o Ibovespa aos 115 mil pontos, nível não alcançado desde antes do Carnaval. Com isso, a bolsa ficou perto de zerar as perdas no ano. Na política, seguem em alta as disputas pelo comando da Câmara e do Senado. O grupo de Rodrigo Maia tenta correr para apresentar um candidato que faça frente à candidatura de Arthur Lira, lançada durante a semana. Ganha força o nome de Aguinaldo Ribeiro, líder da maioria. Com os blocos de Maia e de Lira com tamanhos semelhantes (perto de 1/3 da Câmara), as atenções recaem sobre os cerca de 130 votos da oposição. |
Insight Rico: A aposta dos streamings (por Júlia Aquino) Você sabe o que é 1. d4 d5 2. c4? É uma abertura (como se chamam as jogadas iniciais) de xadrez em que o jogador com as peças brancas propõe um desafio ao oponente: capturar ou não o peão branco na casa c4 do tabuleiro, em uma aposta que abre o jogo a novas possibilidades. Eu não sabia disso até assistir ao primeiro episódio de O Gambito da Rainha, série da Netflix lançada no fim de outubro que é um fenômeno absoluto, e que leva o nome dessa jogada clássica. Gambito não segue a fórmula tradicional dos sucessos da plataforma — ambientada durante a Guerra Fria, tem como protagonista uma órfã que é jogadora profissional de xadrez, e se aprofunda nas estratégias e jogadas no tabuleiro. Xadrez não é um jogo reconhecido por seu apelo visual, mas ainda assim a minissérie se tornou a mais assistida da história da Netflix, com 62 milhões de espectadores no primeiro mês, entrando no top 10 de 92 países e chegando a primeira posição em 63, incluindo Argentina, Reino Unido, Israel e África do Sul. O alcance da série não rendeu apenas para a plataforma, e se estendeu ao jogo em si. Segundo David Llada, porta voz da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), o número diário de partidas online de xadrez passou de 11 milhões no começo de 2020 para 16 milhões no fim de novembro, um aumento de 45%. Os sites que pedem que os usuários se cadastrem para jogar também reportam aumento de novos membros de cerca de 40%. Llada disse que ainda não é possível mensurar o impacto total de O Gambito da Rainha no xadrez, mas que ele já é comparável ao buzz gerado pelos campeonatos mundiais, que ocorrem a cada 2 anos. O diretor de negócios do Chess.com disse que o site batia recordes de maior número de novos membros em todos os dias no mês de novembro, chegando a 100 mil novos cadastros diários, a maioria de iniciantes. O eBay também reportou aumento de 215% na venda de tabuleiros de xadrez. Relógios e timers para xadrez venderam 45 vezes mais desde a estreia da série no fim de outubro. |
É verdade que a procura pelo xadrez, assim como por jogos eletrônicos, já vinha aumentando com mais gente ficando em casa desde o início das medidas de restrição para contenção da pandemia de coronavírus, mas o sucesso da série fez esses números decolarem, o que mostra a extensão da influência e do alcance das plataformas de streaming. O ano de 2020 já seria o ano do streaming mesmo sem uma pandemia que forçasse as pessoas a buscar formas de entretenimento em casa, e viu o lançamento ou consolidação de diversas plataformas. É o caso do Apple TV+ e do Disney+, que chegaram com tudo para disputar os espectadores com as mais tradicionais Netflix e Amazon Prime Video. Até os tradicionais estúdios de Hollywood estão fazendo essa mudança: na última semana, a Warner Bros. anunciou que todos os seus filmes serão lançados em 2021 simultaneamente nas salas de cinema e no HBO Max, plataforma de streaming que deve chegar ao Brasil no ano que vem. Ontem, dia 10, a Disney+ anunciou o marco de 86 milhões de assinantes pouco menos de um ano depois de seu lançamento. Em 2019 os executivos esperavam que o serviço teria entre 60 e 90 milhões de assinantes em 2024, previsão que se concretizou 4 anos mais cedo com a aceleração da adesão ao streaming. Para comparação, a Netflix alcançou no fim do terceiro trimestre de 2020 o número de 170 milhões de assinantes. Com cada vez mais assinantes e investindo em produções originais de qualidade, os streamings estão assumido o papel os canais de TV e estúdios, que sempre foram muito influentes culturalmente e agora tem que se adequar a essa nova forma de consumir conteúdo — é só dar uma olhada nas listas de indicados a premiações para ver que a maioria dos nomes é produzido ou distribuído pelos streamings de vídeo, que estão a um botão de distância. A corrida, no entanto, não tem um vencedor claro. Com a quantidade de serviços de streaming aumentando a cada dia, o espectador vai ter que escolher quais assinar para o valor das mensalidades caber no seu bolso, o que pode limitar o alcance das plataformas. Aqui no Brasil, já existem pacotes com combo de streamings sendo vendidos, em um modelo que lembra bastante aquele dos canais por assinatura, tão tradicionais.
|